A luta pela igualdade racial não nasceu em nenhum dos marcos históricos que pontuam a trajetória de negros e negras no Brasil. Trata-se de sentimento que alude ao primeiro navio tumbeiro aportado no litoral da Ilha de Vera Cruz. Mesmo assim, não deve ser reduzido às iniquidades e agruras sofridas pelos povos africanos na construção do Novo Mundo.

Pensar a negritude é reverenciar capítulos importantes da história da humanidade que, como tal, permanece inacabada; é conectar indivíduos, povos, nações, línguas, culturas que remontam da Antiguidade aos dias  contemporâneos e que hão de se perpetuar no porvir.

É Sankofa: o pássaro legendário que voa sempre em frente sem esquecer o ovo do futuro e a bagagem por sobre as plumas.

A presente exposição do Centro Cultural da Câmara dos Deputados busca alinhavar personalidades negras brasileiras que abriram caminhos e as sucessoras que se dedicaram à construção de histórias. Todas se somam em um mesmo mosaico de pedras diversas e contínuas. É o vislumbre de passado, presente e futuro de uma trajetória que não cabe em parcas linhas ou paredes, mas deve ser respeitada.

Geane Gomes, Maíra Brito e  Raphael Cavalcante
Curadores

Os símbolos Adinkra fazem parte do conhecimento e da tecnologia africana do povo Akan*. Compõem uma escrita filosófica que se caracteriza por ser ideográfica assim como temos no Egito, no Japão e na China. Esse é um entre vários sistemas de escrita africanos, o que, aliás, comprova que a grafia nasce na África com os hieróglifos egípcios e seus antecessores.

Cada um dos Adinkra possui um nome e significado que traz em si a visão de mundo Akan. São parábolas, aforismos, provérbios, ditos populares, podem se referir a eventos históricos, penteados, animais. Conta-se que os Adinkra foram transmitidos pelos mais velhos, particularmente a elite dos anciãos, para comunicar valores tradicionais, ideias filosóficas, códigos de conduta e normas sociais, mensagens construtivas para a alma. Ou seja, foram criados como forma de valorizar e preservar o legado de um povo e por isso são presentes e respeitados até hoje.

Eram esculpidos em madeira ou em peças de ferro, como se fossem carimbos, sendo inicialmente concebidos para transmitir mensagens estampadas em panos usados em cerimônias específicas.

Juntos formavam um texto entendido e decifra do por aqueles que compartilhavam da mesma cultura. Ao longo de gerações, seus usos foram popularizados, chegando a ser utilizados também em contextos menos formais, como roupas de uso cotidiano, joias, grades e paredes, objetos. E assim chegaram ao Brasil.

* Akan é um grupo linguístico formado por várias nações que vivem na atual região dos países de Gana, Burkina Faso e Togo, no Oeste Africano além de estarem espalhados pela diáspora. Dentre as etnias dos Akan, foram os Ashanti que mais se destacaram, por conta do intenso comércio de ouro extraído das minas localizadas em sua região, não à toa chamada de “Costa do Ouro”.

ESCREVIVÊNCIA​

O termo foi cunhado por Conceição Evaristo e remonta à figura da “Mãe Preta” escravizada que cuidava da prole dos senhores de engenho, que além de ser mãe de leite e ensinar as primeiras palavras, contava histórias para “adormecer os da casa-grande”. Ela se dirigia aos aposentos das crianças para contar histórias, cantar e ninar os futuros senhores de engenho.

Escrevivência é um ato de escrita de mulheres negras, no intuito de borrar e desfazer uma imagem do passado, em que o “corpo-voz” de mulheres negras escravizadas tinha sua potência de emissão sob o controle dos escravocratas, homens, mulheres e até crianças.

Ela traz a experiência, a vivência da condição de pessoa brasileira de origem africana, uma nacionalidade hifenizada, na qual se coloca e se pronuncia para afirmar sua origem de povos africanos e celebrar sua ancestralidade, conectando tanto com os povos africanos, como com os povos da diáspora africana.

Escrevivência extrapola os campos de uma escrita que gira em torno de um sujeito individualizado. Surge de uma prática literária cuja autoria é negra, feminina e pobre. Nela, o agente (sujeito da ação) assume o seu fazer, o seu pensamento, a sua reflexão, não somente como um exercício isolado, mas atravessado por grupos, numa coletividade

Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em Belo Horizonte, em 1946. De origem humilde, migrou na década de 1970 para o Rio de Janeiro, onde, após se formar em Letras na UFRJ, trabalhou como professora da rede pública.

Participando de forma ativa nos movimentos de valorização da cultura negra, Evaristo logo se destaca, quando seus poemas e textos da série Cadernos Negros começam a ser publicados.

SANKOFA

O símbolo do Sankofa foi se modificando ao longo do tempo. Estas são suas principais representações – todas remetendo ao pássaro que olha para trás em busca das pedras do passado

Volte e pegue

O Sankofa é um dos Adinkra que tem uso mais popular no Brasil. Se, em muitos portões e grades, seu desenho surge como elemento estético, essa “coincidência” guarda em si um fortíssimo simbolismo, visto que resgatar a história dos africanos sequestrados e trazidos ao Brasil é um passo necessário para se construir um futuro de equidade neste país.

A presença do Sankofa na arquitetura brasileira evidencia ainda algo mais importante, que pouco se ensina nas escolas: as pessoas sequestradas e trazidas para as colônias não eram pessoas aleatórias. Faziam parte de povos que tinham habilidades por vezes muito específicas. Eram não somente bons agricultores, como também ferreiros, tecelões, trabalhadores do couro. Reza a lenda que foi, por meio dos ferreiros, que o Sankofa tornou-se tão popular nas grades brasileiras. Legado e resistência.

No desenho temos um pássaro que, com o rosto virado para trás, segura uma pedra.

Reprodução Abdias Nascimento,
Sankofa n. 2: Resgate (Adinkra Asante).  Acrílica sobre tela, 40 x 55 cm. Rio de Janeiro, 1992.
Acervo Museu de Arte Negra | IPEAFRO

se wo were fi na wo sankofa a yenkyi

Não é tabu buscar o que está em risco de ser deixado para trás.

AYA

Somos como samambaia que não depende da caridade da chuva ou do sol

Este é o provérbio que traz o Adinkra da resistência, uma prova da força e do direito dos povos africanos.

A justiça dos homens é tão caprichosa quanto o ideal de justiça dos diversos panteões que governam a fé humana. Entre a chegada dos primeiros escravizados e as vésperas da Proclamação da República, mais de três séculos legitimaram a escravidão de negros e negras africanos em solo brasileiro.
Por muito tempo essa existência dos corpos africanos foi negada. Não eram considerados humanos e, portanto, não possuíam direitos e suas vozes permaneciam caladas. Com o tempo, após lutas e disputas políticas, pressões externas e os constantes movimentos de insubmissão dos escravizados contra o sistema da escravidão, figuras exemplares começaram a ter suas vozes ouvidas e abriram espaço nos lugares de debate contra o sistema opressor.
Figuras como Luiz Gama lutaram para abrir esse espaço, a favor da abolição e para construir um caminho onde as vozes negras pudessem ser escutadas. Luiz Gama, como outras personalidades, pavimentaram a estrada do Direito para a população negra e hoje servem de base e força ancestral aos profissionais que advogam pela causa negra, representados aqui por Lívia Santana Vaz e Luciana Gomes.

LUIZ GAMA
(1830-1882)

Filho de Luísa Mahin, africana livre, e de pai de origem portuguesa, tendo ele próprio passado pelo sofrimento do cativeiro, tornou-se advogado e um dos grandes abolicionistas do século XIX. Atuou na advocacia em prol de cativos. Mais de 500 homens e mulheres escravizados tiveram seus grilhões partidos pelo discurso e pluma do operador da justiça, aquele que por ironia fora de ex-cativo a libertador, o maior deles. Aos 29 anos, tornou-se autor consagrado e foi considerado o maior abolicionista do Brasil.

LÍVIA SANTANA VAZ

No século e meio que se seguiu, filhas e filhos espirituais de Gama cruzaram as estradas ora abertas, dotando de mais justiça a justiça. Tão baiana quanto o rebento de Luísa Mahin, a promotora de justiça do Ministério Público da Bahia Lívia Sant’Anna Vaz é uma das poucas integrantes negras do MP. Lívia tem como missão o combate ao racismo e a luta em favor dos direitos humano. Encarna o lema gravado no título de um dos livros que escreveu: “A justiça é uma mulher negra”.

LUCIANA SANTOS

A busca por conhecimento e por me desconstruir também como indivíduo que está inserida numa sociedade racista é um compromisso diário. E assim será até o meu retorno para o Orun.

Foi no Norte, em Manaus, que a jovem Luciana Santos decidiu entender teoricamente as razões do racismo que sentia em sua pele negra. Jornalista, advogada, mestra em Direito Constitucional, Luciana encontrou, na formação intelectual e na multiplicidade de seus ofícios, as, ferramentas para contribuir com seus irmãos em vulnerabilidade social.

FAEL

FAEL é um jovem artista de Senador Camará, favela da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Tem 21 anos e há dois faz parte do “Crialismo”, movimento artístico em que crias de favela fazem arte representando a própria realidade. Em outubro deste ano teve sua primeira exposição individual no mercadão de Madureira cancelada por pressão de lojistas incomodados com a realidade de violência tratada nas artes. Após a polêmica, a exposição foi remontada na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

A espada de São Jorge nos lembra a nossa ancestralidade e o quanto somos guerreiros, somos ligados diretamente à natureza, nossa força também vem da terra.
@artistafael

Reprodução
FAEL, Força Ancestral. Ilustração digital, 30 x 42 cm. Rio de Janeiro, 2023.

BAOBÁ

Entre muitos povos de África, o Baobá simboliza força e resistência, sendo conexão entre o mundo sobrenatural e o material, entre os vivos e os mortos. Uma das interpretações diz que suas raízes representam os ancestrais e as memórias da comunidade, enquanto o tronco e as folhas seriam as crianças e os jovens em crescimento.

VILMA NASCIMENTO

O CISNE DA PASSARELA

Vilma Nascimento, 85 anos, é a maior porta-bandeira de todos os tempos. Foi batizada como o Cisne da Passarela devido à elegância de seu bailado. Suas inovações até hoje são fundamentais para a leveza e a beleza da arte do seu bailar: criou o talabarte, a anágua armada e a saia plumada. Sua influência foi decisiva para que o quesito mestre-sala e porta-bandeira fosse incluído na pontuação das escolas de samba.

Ingressou na Portela em 1957, trazida pelo então presidente, Natal da Portela, que imortalizou a escola, ao alçá-la 19 vezes ao pódio de campeã.

Vilma e Mazinho, seu marido, foram os idealizadores e os promo tores da construção do Sambódromo do Rio de Janeiro.

Vilma foi a única porta-bandeira a ganhar três vezes consecutivas o Estandarte de Ouro, a maior premiação do samba.

OSIDAN

O Adinkra do construtor traz a inventividade tecnológica dos Ashantis, que aos poucos aperfeiçoaram seus afazeres com grande habilidade.

Muitos dos negros sequestrados de África e chegados ao Brasil eram letrados, outros detinham conhecimentos na filosofia e nas ciências exatas. Todos esses intelectuais são frutos da negra semente ancestral que resiste e insiste em quebrar as muralhas coloniais do apagamento e do silenciamento que constituem o racismo em nosso país. Eles fizeram e fazem história ao protagonizar seus legados de glórias e vitórias.

O lugar do negro, no Brasil, desde o século XV até os dias atuais, nem sempre foi no açoite da senzala ou na miséria da favela. Resistir e quebrar os paradigmas coloniais da crueldade do racismo imprimiu a trajetória valorosa de intelectuais negros brasileiros. Trazemos à luz da ribalta o engenheiro André Rebouças, a engenheira Enedina Alves, a cientista da computação Nina da Hora e o aluno de programação Matheus Silva Siqueira. Todos alinhavados pela força e pelo saber ancestral brilharam e brilham, colocando sua genialidade a serviço do desenvolvimento e da história do nosso país.

ENEDINA ALVES MARQUES


(1913-1981)

Em 1945, formou-se a primeira engenheira negra brasileira e a primeira mulher da região Sul. Na faculdade foi reprovada em inúmeras matérias por professores que a perseguiam por ser negra. Trabalhou como empregada doméstica e como professora para custear seus estudos. Filha de mãe lavadeira e de pai ausente, Enedina não se casou nem teve filhos. Passava as madrugadas estudando para gabaritar as provas. Em 1947 tomou posse no Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica e, entre várias obras, construiu, no Paraná, a maior hidrelétrica subterrânea do Sul do país, a Usina Capivari-Cachoeira, no Paraná. O nome de Enedina Alves figura em rua, no bairro Cajuru em Curitiba; no Memorial à Mulher Negra e no Instituto de Mulheres Negras Enedina Alves Marques.

MATEUS SIQUEIRA

Eu nunca desisti de sonhar. Vou persistir até conseguir alcançar um futuro melhor na programação.

Morador da comunidade Céu Azul, em Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, Matheus Silva Siqueira tem 14 anos e é programador de jogos. É aluno destaque do projeto social Nave do Conhecimento, craque em matemática desde pequeno, gosta de montar e desmontar aparelhos robóticos. Atualmente está desenvolvendo o jogo Space Wars. Matheus representa milhares de meninos e meninas da favela, que, se tiverem a oportunidade de desenvolver suas potências, poderão lançar o Brasil na vanguarda tecnológica.

NINA DA HORA

Nós da tecnologia temos a possibilidade de dar continuidade a um Brasil que foi esquecido, mas agora conseguimos fazer juntos: alunos, empresas e governo. Tudo o que estamos vivendo aqui precisa estar nas políticas públicas do Brasil, para termos uma infraestrutura mais duradoura

Ana Carolina da Hora é cientista da Computação. Nina da Hora nasceu em 1995, em Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Criada por cinco mulheres professoras, começou a trabalhar com sucata robótica. Ganhou o prêmio Sabia Award, dado pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, por seu trabalho sobre Racismo Algorítmico no Reconhe cimento Facial. Pesquisa temas como Inteligência Artificial e Ética. Criou o canal Computação sem Caô e o Podcast Ogunhê, que revela ao mundo o saber de cientistas africanos. Há 3 anos fundou o Instituto da Hora, composto por mulheres negras e indígenas, que visa descen tralizar e disseminar o saber científico, potencializando narrativas antirracistas na tecnologia.

ASASE YE DURU

Representado pelo reflexo de dois corações, este Adinkra mostra a importância do que vem da terra para o erguimento da vida, uma lição de sabedoria.

África tem uma rica tradição de práticas médicas que remonta às civilizações ancestrais. No Antigo Egito, os africanos desenvolveram sistemas de Medicina, Cirurgia e Farmacologia bem avançados para a época. O Papiro de Edwin Smith, datado de cerca de 1600 a.C., é um dos mais antigos registros médicos conhecidos e descreve tratamentos e procedimentos cirúrgicos.

É fundamental inscrever África no desenvolvimento da Medicina ao longo da História – assim como também é premente ressaltar as diversas contribuições de pesquisadores, cientistas e intelectuais negros brasileiros nos avanços tecnológicos no campo da Saúde no Brasil e no mundo.

JULIANO MOREIRA

(1872-1933)

O médico baiano Juliano Moreira é um desses nomes que merece destaque. Responsável por notáveis contribuições à pesquisa no campo da Psiquiatria, foi o primeiro professor universitário brasileiro a incorporar a teoria psicanalítica no ensino da Medicina. Árduo defensor da reforma psiquiátrica, opunha-se aos métodos arcaicos de tratamento que frequentemente envolviam práticas desumanas. Como diretor do Hospital Nacional de Alienados (Hospício Nacional), no Rio de Janeiro, Dr. Juliano humanizou o tratamento dos pacientes, dividindo-os por sexo e idade. Também promoveu a retirada das grades do hospício, além de abolir o uso de camisas de força. Crítico contundente do eugenismo e do determinismo racial, seu legado é reconhecido como um marco na promoção do tratamen to humano e cientificamente embasado para pessoas com transtornos mentais

JAQUELINE GOES

Sabemos que muitos são os obstáculos para alcançar este patamar e comigo, mulher negra, não foi diferente.

A biomédica Jaqueline Goes alcançou projeção nacional e internacional ao coordenar a equipe responsável pelo sequenciamento do genoma do Coronavírus no Brasil, em apenas 48 horas após a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no país. Antes disso, ela também integrou a equipe que sequenciou o genoma do vírus Zika. Doutora em Patologia Humana e Experimental, Dra. Jaqueline é um expoente na área das Ciências da Saúde, levando a pauta da representatividade feminina negra nos meios científicos e defendendo ações com foco em empoderamento feminino e em Ciência.

MARINA GONÇALVES MOREIRA

Vejo que o nosso maior desafio não é cuidar ou fazer saúde, mas sermos reconhecidas por isso. A medicina nasceu em África, o cuidado sempre foi feito por mulheres negras, mas até hoje não somos reconhecidas como aquelas que proporcionam avanços nessa área.

A bióloga Marina Gonçalves Moreira em pouco tempo também deve se inscrever nesse círculo de destaque entre pesquisadoras negras. Depois de se formar em Ciências Biológica, cursa agora o último semestre de Medicina pela Universidade de Brasília. Pesquisadora da área de Racismo Médico, dedica-se principalmente à questão de educação em saúde. Em seus estágios, já teve oportunidade de transitar entre os grupos mais vulneráveis e também mais privilegiados, vendo de perto as discrepâncias sociais. Quando olha para as mulheres que vieram antes dela, Marina diz que sua principal referência é sua avó, Dona Maria dos Anjos, rezadeira e curandeira. Outras referências são Jurema Werneck, Juliana dos Santos e Dra. Silandia, várias médicas negras que tem a chance de acompanhar de perto

JÔ GOMES

E A ANCESTRALIDADE NA DANÇA

A brasiliense Jô Gomes é jornalista, bailarina, coreógrafa e estudiosa de danças africanas tradicionais e urbanas do continente e da diáspora, com Mestrado em Dança pela Universidade Federal da Bahia, onde pesquisou sobre Matriarcado e Oralidade nas Danças Afro-Brasileiras.

Em seu trabalho artístico, Jô Gomes carrega o legado da ancestralidade, somando forças na luta pela negritude na contemporaneidade

ANANSE

O símbolo é a estilização de uma teia de aranha e carrega os significados de sabedoria, de criatividade e das complexidades da vida.

A sabedoria africana Sankofa nos legou a arte de aprender com o passado para construir o presente e o futuro. Nessa perspectiva, apresentamos pinceladas do pensamento negro brasileiro veiculado pelas escritoras Maria Firmina dos Reis, Conceição Evaristo e Nanda Fer Pimenta, que, entre inúmeras escritoras e escritores brasileiros, dão voz e fomentam a compreensão da construção e da formação identitária brasileira.

A palavra do povo negro do Brasil atravessou o Atlântico condenada aos porões dos navios negreiros e aos grilhões da senzala. A palavra não morreu, ao contrário, vive em nós. Como semente de baobá, semeada nos rincões das favelas e das periferias, cresceu e frutificou em poesia, ficção, contos, romances e ensaios de Firmina, Conceição e Nanda, que se conectam em teia para denunciar as agruras vividas no racismo e para expurgá-lo.

Ao mesmo tempo, as obras das referidas escritoras servem-nos de espelho e devolvem ao nosso povo preto a dignidade e a força, pois resgatam em cada um de nós a conexão ancestral que nos liberta e nos cura. Ligadas nesse fio ancestral tecido por essas escritoras e por tantas outras, outros e outres, podemos, então, ecoar: Não! Não vão nos calar!

MARIA FIRMINA
DOS REIS

(1822-1917)

O médico baiano Juliano Moreira é um desses nomes que merece destaque. Responsável por notáveis contribuições à pesquisa no campo da Psiquiatria, foi o primeiro professor universitário brasileiro a incorporar a teoria psicanalítica no ensino da Medicina. Árduo defensor da reforma psiquiátrica, opunha-se aos métodos arcaicos de tratamento que frequentemente envolviam práticas desumanas. Como diretor do Hospital Nacional de Alienados (Hospício Nacional), no Rio de Janeiro, Dr. Juliano humanizou o tratamento dos pacientes, dividindo-os por sexo e idade. Também promoveu a retirada das grades do hospício, além de abolir o uso de camisas de força. Crítico contundente do eugenismo e do determinismo racial, seu legado é reconhecido como um marco na promoção do tratamen to humano e cientificamente embasado para pessoas com transtornos mentais

CIDA BENTO

A branquitude se expressa em uma repetição, ao longo da história, de lugares de privilégio assegurados para as pessoas brancas, mantidos e transmitidos para as novas gerações

Maria Aparecida da Silva Bento nasceu em São Paulo, em 1952. Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo, pesquisa as desigualdades raciais e de gênero no ambiente de trabalho. Para Cida Bento, existe um pacto na formação da sociedade brasileira que privilegia quem é branco. Cida Bento é autora de diversos livros e cofundadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT). A revista inglesa The Economist, a considerou, em 2015, uma das personalidades mais influentes do mundo no que diz respeito à promoção da diversidade.

NANDA FER PIMENTA

A força está guardada em nosso próprio corpo, a sua versão visível que não finda.

Nascida em Canavieiras, Bahia, veio para Brasília aos 3 anos. Desde então mora na periferia, em São Sebastião. Aos 32 anos, já publicou duas obras: Sangue e Dengo.

Sangue (2018) é marcado pela necessidade de falar sobre o que lhe faltou como mulher preta periférica. De suas páginas vermelhas escorre o sangue que tenta expurgar a dor do racismo.
Dengo (2022) é um livro afetivo. O nome do livro também faz alusão ao dendê, fruto encontrado em sua terra natal, que traz o tempero ancestral para fortalecer a vida.

Nanda iniciou-se nas Artes Cênicas, na UnB, onde se conectou com a linguagem do corpo, cuja apropriação lhe confere o direito e a força para contar a sua história.

O PENSAMENTO NEGRO NO BRASIL: UMA CONEXÃO ANCESTRAL

Exposição do Centro Cultural da Câmara dos Deputados

Coordenação do Projeto
Clauder Diniz

Revisão
Maria Amélia Elói

Estagiário de História e Produção
André Grigório

Projeto Gráfico
Luísa Malheiros

Estagiária de Design
Jaqueline de Melo

Manutenção da Exposição
André Ventorim
Maurilio Magno
Paulo Titula
Wendel Fontenele

Material Gráfico
Coordenação de Serviços Gráficos –
CGRAF/DEAPA

Curadoria da Exposição
Geane Gomes
Maíra Brito
Raphael Cavalcante

Pesquisa
André Grigório
Coordenação de Relacionamento, Pesquisa e Informação – CORPI
Centro de Documentação e Informação da Câmara dos Deputados – CEDI

Crédito de Imagens
Conceição Evaristo | Foto: Léo Martins | Luiz Gama | Desenho Angelo Agostini, 1882 | Lívia Santana Vaz | Foto: Maiara Cerqueira | Luciana Gomes | Foto: Arquivo Pessoal André Rebouças | Autor Desconhecido, circa 1850, Domínio Público Enedina Alves Marques | Foto: Acervo Fundação Palmares Nina da Hora | Foto: Acervo Pessoal Juliano Moreira | Autor Desconhecido, circa
1900, Domínio Público Jaqueline Goes | Foto: Acervo Pessoal Marina Gonçalves Moreira | Foto: Acervo Pessoal Maria Firmina dos Reis | Foto: Ariosvaldo Baeta / Prefeitura de São Luis-MA
Cida Bento | Foto: Nego Júnior Nanda Fer Pimenta | Foto: Wendella Alves

Entrevista Conceição Evaristo
Realização:
Caio Mazzilli
Filipe Franco
Rodolfo Pelegrin
Thany Sanches
Vinícius Silva
Produção:
Panamá Filmes
Canal Leituras Brasileiras – YouTube

Vídeo Jô Gomes:
Direção de Imagens:
Maíra Brito
Áudio:
Angelo Ramos
Operador de Camera:
Fernando Elias
Eduardo Barbosa
Iluminador:
Gutemberg Lewis
Assistente de Produção:
Alexandre Borges
Wellington Saturnino
Supervisão de Operação:
Jacks Douglas

Agradecimentos
Ipeafro – Instituto de Pesquisas e Estudos
Afro-Brasileiros
Elisa Larkin Nascimento
Rafael Willian dos Anjos Silva – FAEL
Suzana Guedes
Danielle Nascimento
Vilma Nascimento
Daniela André
Willian França
Jacks Douglas
Joceline Gomes
Ruza Medina Zago
Caio Mazzilli
Guilherme Bacalhau
Cícero Bezerra
Igor Almeida
Secretaria de Comunicação de São Luis – MA
Coordenação de Engenharia de Telecomunicações e Audiovisual- COAUD