Papel da mulher no imperativo da procriação e do cuidado
Divisão sexual do trabalho
Trabalho em casa sem remuneração, subemprego, tempo parcial, diferenças salariais com os homens, dupla jornada de trabalho são características que estão na base da inferiorização das mulheres na estrutura social contemporânea.
Menor presença feminina no mercado de trabalho formal, embora mulheres tenham em média mais anos de estudo, e predominância de mulheres na informalidade (51% contra 21% de homens)
Predominância de mulheres em atividades de tempo parcial, com remuneração inferior em relação aos homens e abaixo do salário mínimo
Concentração de mulheres em atividades relacionadas ao cuidado: limpeza, magistério, enfermagem
Maior incidência de mulheres nas áreas das ciências humanas e literárias do que em carreiras com formação técnica ou tecnológica, que têm maiores salários
Períodos de desemprego mais longos entre as mulheres
Discrepância salarial: mulheres negras recebem em média 46% a menos que homens brancos em cargos semelhantes
Desvalorização da mulher como profissional no mercado de trabalho por se ocuparem dos filhos, ainda que a maternidade seja um imperativo social para a mulher
Criminalização da interrupção voluntária da gravidez
Fonte: Ipea, OIT, Margaret Maruani (2003), Françoise Héritier (1996)
O capital não é apenas econômico.
Pierre Bourdieu
As oportunidades de qualificação não são idênticas para todas as pessoas. A transmissão familiar do patrimônio econômico, cultural e social de todos os tipos é sujeita a fatores sociais e biológicos
Os recursos disponíveis na educação das crianças (livros, tempo de estudo, acesso a escolas melhores, formação cultural) tendem a se reproduzir nas faixas socioeconômicas com maior renda, gerando facilidade de aprendizado e maior acesso a carreiras de prestígio
Herança do analfabetismo, dos três séculos de escravidão e da precariedade do ensino escolar público, frequentado pela maioria da população
Esse ciclo gera uma inércia que resulta da incorporação das estruturas sociais: injustiças que se instalam nos corpos das mulheres, cansadas e desacreditadas de mudanças possíveis
A distribuição dos recursos, normas, regras, princípios e formas de organização coletiva não são naturais, mas socialmente construídas ao longo do tempo
Violência simbólica é o poder de impor as significações como sendo supostamente legítimas, logrando dissimular as relações de força que se encontram na base desse poder, isto é, acrescentando a violência propriamente simbólica a essas relações de força. (…) É próprio da eficácia simbólica não poder exercer-se senão com a cumplicidade – tanto mais certa quanto mais inconsciente, e até mesmo mais sutilmente extorquida – daqueles que a suportam.
Pierre Bourdieu
O país deve ser uma obra coletiva, instituída pela própria coletividade humana, que decorre de postura ou atitude nova, questionadora, que integra a alteridade do outro no seu projeto de construção da vida social
O crescente envolvimento de mulheres em profissões de prestígio, como médicas, advogadas, magistradas, engenheiras e arquitetas, além do aumento da bancada feminina e o fortalecimento das elaborações legislativas de colegiados como a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher representam conquistas que precisam ser aprofundadas e melhoradas
A elaboração legislativa e a formulação das políticas públicas em prol das mulheres brasileiras precisam ser
pensadas e efetivamente implementadas. Qual o impacto dessas políticas na vida cotidiana das mulheres?
Essas políticas estão sendo aplicadas corretamente pelos governos e empresas públicas e privadas? Como
mensurar sua efetividade?
– Enfrentamento da violência contra a mulher e combate ao feminicídio
– Estímulo às políticas de segurança pública com cidadania em territórios com altos indicadores de violência e com grupos sociais mais vulneráveis
– Apoio às vítimas da criminalidade
– Combate ao racismo estrutural e a todos os crimes dele derivados
– Mudança de abordagem da segurança pública, tradicionalmente repressiva e policial
Conheça os estudos “Violências físicas e simbólicas contra as mulheres” e “Desigualdades sociais e violências na vida das mulheres”, da Consultoria Legislativa
Texto: Carolina Nogueira Arte: Thiago Fagundes | Rafael Teodoro Agência Câmara de Notícias – 23/10/2023