O pioneirismo de um padre inventor, a curiosidade de engenheiros pernambucanos e o idealismo de um educador transformaram a palavra rádio para sempre. Ela deixou de ser apenas o nome de uma tecnologia militar e comercial e passou a identificar um veículo que levaria informação, diversão e cultura a todos os cantos.
Cem anos depois, o rádio se expandiu: extravasou as ondas do aparelho e alcançou o celular, o computador, as redes sociais; se democratizou por meio das rádios web e renovou sua linguagem com o podcast. Mas não perdeu sua identidade. Continua no cotidiano de milhares de brasileiros, associado a informação, emoção, companheirismo e diversão.
A Câmara dos Deputados comemora, desde 7 de setembro de 2022, os 100 anos dessa grande virada: a demonstração comercial de equipamentos radiofônicos que, durante a Exposição de 100 anos da Independência do Brasil, despertou em mais brasileiros as novas possibilidades dessa tecnologia, desse outro rádio.
A exposição abaixo acompanha a trajetória do veículo, que é de renovação, mas também de fortalecimento das marcas que o definem. E mostra os lugares a que o rádio ainda pode chegar.
16 de julho
Primeira experiência de transmissão de voz por ondas de rádio da história da humanidade, realizada pelo padre e inventor brasileiro Roberto Landell de Moura.
Padre Landell de Moura. Acervo Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul
Patente do transmissor de ondas desenvolvida pelo Padre Landell. Acervo Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul
“Toquem o hino nacional.”
Foi o que disse Landell de Moura na transmissão entre o Colégio Santana, na zona norte de São Paulo, e a Ponte das Bandeiras, a cerca de 4 km de distância. Numa época em que começa a aparecer o espiritismo, o padre foi mal compreendido ao dizer que queria transmitir a voz humana à distância. Ele é perseguido por fiéis, que chegam a quebrar seus equipamentos.
Réplica do transmissor de ondas construída por Marco Aurélio Cardoso Moura com base nas patentes do padre. Foto Hamilton Almeida
No início do século XX, a palavra rádio estava associada a uma tecnologia que levava informação de um ponto a outro. Era usada para fins comerciais e militares, como na comunicação entre o porto e o navio, ou entre dois batalhões. Era radiotelegrafia, radiotelefonia. Mas aficionados pela telegrafia se reuniam para estudar e desenvolver a técnica, com o objetivo de transmitir o pensamento humano sem fio e a grandes distâncias. Eram senhores de engenho, donos de negócios, comerciantes, políticos, que fabricavam os próprios aparelhos e realizavam pesquisas, com transmissões experimentais e clandestinas, pois a radiotelegrafia era uma atividade restrita ao setor governamental.
17 de abril
Primeira transmissão clara de som em território brasileiro.
Telegrafista em comunicação com o comboio durante a 2ª Guerra Mundial.
Acervo Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha do Brasil
6 de abril
Primeira transmissão clara de som em território brasileiro.
2 de novembro
Primeira transmissão clara de som em território brasileiro.
7 de setembro
Primeira transmissão clara de som em território brasileiro.
Durante a Exposição Internacional do Rio Janeiro, que celebrava os 100 anos da Independência do Brasil, a voz do presidente Epitácio Pessoa ecoou entre os cariocas que passavam pelos 80 receptores instalados por uma empresa estrangeira que queria vender equipamentos de radiotelefonia e radiocomunicação no Brasil. Esse evento, de caráter comercial, chamou a atenção dos passantes, que, assim como os pioneiros pernambucanos, vão enxergar naquela tecnologia a possibilidade de levar música, educação e ciência aos ouvintes. A intermediação de Edgard Roquette-Pinto junto ao governo foi fundamental para consolidar o rádio como veículo portador da cultura e da educação.
20 de abril
Fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, por Roquette-Pinto.
Roquette-Pinto. Acervo Empresa Brasil de Comunicação
6 de outubro
Início das transmissões regulares da Rádio Sociedade Cruzeiro do Sul, a primeira de uma cadeia de rádios batizada de Verde-Amarela, que chegou, em 1937, a 14 emissoras.
Roquette-Pinto fala sobre a criação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro
27 de maio
Decreto nº 20.047 regulamenta a execução dos serviços de radiocomunicação no território nacional, qualificando esses serviços como de interesse nacional e de finalidade educacional.
19 de julho
Primeira irradiação oficial de futebol no rádio brasileiro.
O speaker metralhadora Nicolau Tuma narrou, de forma ininterrupta, o jogo entre as Seleções de São Paulo e do Paraná pela Rádio Educadora Paulista. Mas há quem defenda que o pioneiro na transmissão esportiva foi Amador Santos, na Rádio Clube do Brasil. Sem chances de transmitir de dentro do estádio, ele inventava um jeito de ver o jogo: de binóculo, de alguma casa distante, ou atrás de um muro.
Murillo Antunes Alves. Acervo Museu Brasileiro de Rádio e Televisão
Nicolau Tuma. Acervo Museu Brasileiro de Rádio e Televisão
Histórias que se cruzam
O interesse em transmitir o futebol pelo rádio começou junto com o próprio rádio, e antes de o esporte se profissionalizar no Brasil. Já na década de 20, surgiram serviços de alto-falantes para torcedores, como o de uma sorveteria que prometia informar “as peripécias principais dos três jogos (…) por possante voz humana, da sacada do primeiro andar do edifício, de forma que serão ouvidas em grande raio”.
Na década seguinte, enquanto o futebol se profissionalizava e o rádio comercial se consolidava, o interesse aumentou, mas alguns dirigentes desportivos recearam a concorrência. As transmissões esportivas se consolidaram a partir dos anos 40, e hoje o rádio acompanha o torcedor dentro do estádio.
1º de março
Decreto nº 21.111 regulamenta a publicidade no rádio.
Criação do programa A Voz do Brasil.
Criado durante a primeira Era Vargas, A Voz do Brasil começou com os objetivos de integração nacional e de promoção do governo federal, mas hoje veicula informações sobre os três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário. O emprego de profissionais de Jornalismo e a adoção de linguagem e formatos radiojornalísticos transformaram o programa, que já teve, inclusive, reportagens premiadas. Primeiro, foi batizado de Programa Nacional. Logo foi rebatizado de Hora do Brasil e, depois, de A Voz do Brasil. É o programa mais antigo do rádio brasileiro.
7 de setembro
Cerimônia de doação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro ao Ministério da Educação e Saúde.
12 de setembro
Início das transmissões da Rádio Nacional, que será encampada pelo Estado Novo em 1940.
Sem condições de manter e modernizar o parque de equipamentos da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, Roquette-Pinto doa a emissora ao Ministério da Educação e Saúde, com a condição de que ela mantivesse sua missão cultural e educativa. Ela passa a se chamar Rádio Ministério da Educação, ou Rádio Ministério e, depois, Rádio MEC, que é hoje a emissora com transmissões regulares mais antiga em atividade no País. Sua programação musical privilegia a diversidade da música popular brasileira e temas como infância, sustentabilidade, inclusão, gênero e educação.
7 de setembro de 1938
Abertura da primeira edição de A Hora do Brasil
1º de dezembro
Abelardo Barbosa começa a apresentar o programa Rei Momo na Chacrinha, na Rádio Clube Fluminense.
Naquele tempo, eram programas feitos, realmente, para botar o cara para dormir. Então, eu resolvi fazer um programa para o cara ficar acordado. Então, eu imaginei um programa… Rei Momo na Chacrinha, porque a rádio era numa chácara de verdade.
Chacrinha
18 de novembro
Em Porto Alegre, entra no ar em caráter definitivo a Rádio da Universidade, pioneira das emissoras universitárias do País.
Operador de áudio no estúdio.
Acervo Rádio da Universidade (UFRGS)
O Poder Legislativo passa a ocupar a segunda meia hora do programa A Hora do Brasil.
Newton Alvarenga Duarte, o Big Boy, se torna o primeiro grande disc jockey brasileiro, apresentando aos brasileiros as novidades da black music americana e do soul nacional, além dos sucessos dos Beatles.
27 de abril
O regime militar torna a expansão das FMs uma prioridade. São dados incentivos à indústria eletroeletrônica para produção de transmissores e receptores.
Fundação da Rádio Favela FM, marco do rádio comunitário brasileiro.
Março
A Bandeirantes AM, de São Paulo, começa a gerar seu radiojornal usando o tempo ocioso do subcanal que a TV havia alugado no Intelsat 4. É a entrada do rádio brasileiro na era das redes via satélite.
Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, consolida o primeiro projeto viável de jornalismo 24 horas.
Setembro
Surgem as primeiras rádios online no mundo, replicando, na internet, programações do AM/FM; a primeira teria sido a Klif, do Texas, nos EUA.
Abril
De Recife, o programa Manguetronic, ligado ao movimento Mangue Beat, é a primeira web rádio do País, sem existência em ondas hertzianas.
29 de janeiro
Criação da Rádio Senado.
19 de fevereiro
A Lei 9.612 institui o Serviço de Radiodifusão Comunitária.
20 de janeiro
Entra no ar a Rádio Câmara.
2 de dezembro
Começa a operar a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), com a missão de prestar serviços de radiodifusão pública.
17 de outubro
Criação da Rede Legislativa de Rádio da Câmara dos Deputados
7 de novembro
Decreto nº 8.139 autoriza a migração de emissoras da faixa de AM para a de FM.
Kantar IBOPE Media / Pesquisa 100 anos Rádio / 13 RMs / Agosto 2022. Filtro: Entre os ouvintes de rádio
Ouça a Rádio Câmara aqui
Era função de todos nós darmos um caráter didático à programação. Nós não colocávamos música apenas pra preenchermos espaço. Nós colocávamos a música com a intenção de transmitir uma forma de conhecimento, desenvolver a escuta do ouvinte e despertar nele a curiosidade por aquele autor, aquela obra.
Programador Rubem Prates,
que atuou na Rádio da Universidade a partir de 1975
O rádio fala para o local. E, mesmo com um quarto de ouvintes no celular, em muitas comunidades, quem traz a informação ainda são sistemas de alto-falantes instalados com uso de fios em postes de energia elétrica. É a rádio poste, único meio de comunicação local de muitos desertos de notícias.
A rádio poste é hiperlocal. Divulga eventos comunitários, feiras de bairro, programação de igrejas e de centros culturais, ocorrências no trânsito, obituários, campanhas de vacinação, matrícula nas escolas, pedidos ou reclamações da população. É isso que vira notícia.
Kantar IBOPE Media / Pesquisa 100 anos Rádio / 13 RMs / Agosto 2022. Filtro: Entre os ouvintes de rádio
Target Group Index TG BR 2022 R1. Filtro: Ouvintes de Rádio TOTAL (últimos 7 dias)
Target Group Index TG BR 2022 R1.
Filtro: Entre os ouvintes de podcast
O podcast rompe com algumas características do rádio, como a grade fixa de programação e a escuta em tempo real: você ouve quando quer, onde quer e ainda compartilha com os amigos. E tensiona o radiojornalismo atual com um apresentador que conta histórias em primeira pessoa, vira personagem e conduz o ouvinte por meio de trilhas e efeitos que conferem mais emoção ao relato. Mas será que isso basta para se dizer que podcast é algo novo, que rompe com o rádio? Afinal, Chacrinha já fazia algumas dessas peripécias na década de 1940…
De todo jeito, o podcast faz parte do movimento de renovação do rádio, tão necessário para que o veículo se mantenha relevante mesmo depois da chegada da TV e, agora, da internet. O rádio, com certeza, mudou nesses 100 anos: se adaptou às novas tecnologias, se expandiu, mas, definitivamente, não morreu.
Exposição Rádio: centenário e antenado
REALIZAÇÃO Centro Cultural Câmara dos Deputados
COORDENAÇÃO DO PROJETO Clauder Diniz | CURADORIA Verônica Lima Nogueira da Silva | PRODUÇÃO Clarissa de Castro, João Paulo Florêncio, Mércia Maciel | REVISÃO Maria Amélia Elói | PROJETO
GRÁFICO Luérison Alves, Mima Carfer, Felipe Matheus | ESTAGIÁRIA Jaqueline de Melo | MONTAGEM E MANUTENÇÃO DA
EXPOSIÇÃO André Ventorim, Maurilio Magno, Paulo Titula, Wendel Fontenele | MATERIAL GRÁFICO Coordenação de
Serviços Gráficos – CGRAF/DEAPA
INFOGRÁFICO Thiago Fagundes, Rafael Teodoro
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Rádio no Brasil [recurso eletrônico]: 100 anos de história em (re) construção / organizadores Vera Lucia Spacil Raddatz … [et al.].
Ijuí : Ed. Unijuí, 2020.
Carta aberta sobre o pioneirismo no rádio brasileiro, 2021.
AGRADECIMENTOS
Acervo Joaquim Nabuco – Ministério da Educação | Empresa Brasil de Comunicação | Hamilton Almeida | Instituto Histórico
e Geográfico do Rio Grande do Sul | Luiz Artur Ferraretto | Manguetronic | Marcelo Kischinhevsky | Marco Aurélio Cardoso
Moura | Marinha do Brasil | Museu Brasileiro de Rádio e Televisão | Rádio Autêntica 106,7 Favela FM | Rádio Comunitária
Heliópolis | Rádio da Universidade (UFRGS) | Rádio Poste Caema
O pioneirismo de um padre inventor, a curiosidade de engenheiros pernambucanos e o idealismo de um educador transformaram a palavra rádio para sempre. Ela deixou de ser apenas o nome de uma tecnologia militar e comercial e passou a identificar um veículo que levaria informação, diversão e cultura a todos os cantos.
Cem anos depois, o rádio se expandiu: extravasou as ondas do aparelho e alcançou o celular, o computador, as redes sociais; se democratizou por meio das rádios web e renovou sua linguagem com o podcast. Mas não perdeu sua identidade. Continua no cotidiano de milhares de brasileiros, associado a informação, emoção, companheirismo e diversão.
A Câmara dos Deputados comemora, desde 7 de setembro de 2022, os 100 anos dessa grande virada: a demonstração comercial de equipamentos radiofônicos que, durante a Exposição de 100 anos da Independência do Brasil, despertou em mais brasileiros as novas possibilidades dessa tecnologia, desse outro rádio.
A exposição abaixo acompanha a trajetória do veículo, que é de renovação, mas também de fortalecimento das marcas que o definem. E mostra os lugares a que o rádio ainda pode chegar.
16 de julho
Primeira experiência de transmissão de voz por ondas de rádio da história da humanidade, realizada pelo padre e inventor brasileiro Roberto Landell de Moura.
“Toquem o hino nacional.”
Foi o que disse Landell de Moura na transmissão entre o Colégio Santana, na zona norte de São Paulo, e a Ponte das Bandeiras, a cerca de 4 km de distância. Numa época em que começa a aparecer o espiritismo, o padre foi mal compreendido ao dizer que queria transmitir a voz humana à distância. Ele é perseguido por fiéis, que chegam a quebrar seus equipamentos.
Padre Landell de Moura. Acervo Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul
Patente do transmissor de ondas desenvolvida pelo Padre Landell. Acervo Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul
Réplica do transmissor de ondas construída por Marco Aurélio Cardoso Moura com base nas patentes do padre. Foto Hamilton Almeida
No início do século XX, a palavra rádio estava associada a uma tecnologia que levava informação de um ponto a outro. Era usada para fins comerciais e militares, como na comunicação entre o porto e o navio, ou entre dois batalhões. Era radiotelegrafia, radiotelefonia. Mas aficionados pela telegrafia se reuniam para estudar e desenvolver a técnica, com o objetivo de transmitir o pensamento humano sem fio e a grandes distâncias. Eram senhores de engenho, donos de negócios, comerciantes, políticos, que fabricavam os próprios aparelhos e realizavam pesquisas, com transmissões experimentais e clandestinas, pois a radiotelegrafia era uma atividade restrita ao setor governamental.
17 de abril
Primeira transmissão clara de som em território brasileiro.
Telegrafista em comunicação com o comboio durante a 2ª Guerra Mundial. Acervo Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha do Brasil
6 de abril
Primeira transmissão clara de som em território brasileiro.
2 de novembro
Primeira transmissão clara de som em território brasileiro.
7 de setembro
Primeira transmissão clara de som em território brasileiro.
Durante a Exposição Internacional do Rio Janeiro, que celebrava os 100 anos da Independência do Brasil, a voz do presidente Epitácio Pessoa ecoou entre os cariocas que passavam pelos 80 receptores instalados por uma empresa estrangeira que queria vender equipamentos de radiotelefonia e radiocomunicação no Brasil. Esse evento, de caráter comercial, chamou a atenção dos passantes, que, assim como os pioneiros pernambucanos, vão enxergar naquela tecnologia a possibilidade de levar música, educação e ciência aos ouvintes. A intermediação de Edgard Roquette-Pinto junto ao governo foi fundamental para consolidar o rádio como veículo portador da cultura e da educação.
20 de abril
Fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, por Roquette-Pinto.
Roquette-Pinto. Acervo Empresa Brasil de Comunicação
6 de outubro
Início das transmissões regulares da Rádio Sociedade Cruzeiro do Sul, a primeira de uma cadeia de rádios batizada de Verde-Amarela, que chegou, em 1937, a 14 emissoras.
Roquette-Pinto fala sobre a criação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro
27 de maio
Decreto nº 20.047 regulamenta a execução dos serviços de radiocomunicação no território nacional, qualificando esses serviços como de interesse nacional e de finalidade educacional.
19 de julho
Primeira irradiação oficial de futebol no rádio brasileiro.
O speaker metralhadora Nicolau Tuma narrou, de forma ininterrupta, o jogo entre as Seleções de São Paulo e do Paraná pela Rádio Educadora Paulista. Mas há quem defenda que o pioneiro na transmissão esportiva foi Amador Santos, na Rádio Clube do Brasil. Sem chances de transmitir de dentro do estádio, ele inventava um jeito de ver o jogo: de binóculo, de alguma casa distante, ou atrás de um muro.
Murillo Antunes Alves. Acervo Museu Brasileiro de Rádio e Televisão
Nicolau Tuma. Acervo Museu Brasileiro de Rádio e Televisão
Histórias que se cruzam
O interesse em transmitir o futebol pelo rádio começou junto com o próprio rádio, e antes de o esporte se profissionalizar no Brasil. Já na década de 20, surgiram serviços de alto-falantes para torcedores, como o de uma sorveteria que prometia informar “as peripécias principais dos três jogos (…) por possante voz humana, da sacada do primeiro andar do edifício, de forma que serão ouvidas em grande raio”.
Na década seguinte, enquanto o futebol se profissionalizava e o rádio comercial se consolidava, o interesse aumentou, mas alguns dirigentes desportivos recearam a concorrência. As transmissões esportivas se consolidaram a partir dos anos 40, e hoje o rádio acompanha o torcedor dentro do estádio.
1º de março
Decreto nº 21.111 regulamenta a publicidade no rádio.
Criação do programa A Voz do Brasil.
Criado durante a primeira Era Vargas, A Voz do Brasil começou com os objetivos de integração nacional e de promoção do governo federal, mas hoje veicula informações sobre os três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário. O emprego de profissionais de Jornalismo e a adoção de linguagem e formatos radiojornalísticos transformaram o programa, que já teve, inclusive, reportagens premiadas. Primeiro, foi batizado de Programa Nacional. Logo foi rebatizado de Hora do Brasil e, depois, de A Voz do Brasil. É o programa mais antigo do rádio brasileiro.
7 de setembro
Cerimônia de doação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro ao Ministério da Educação e Saúde.
12 de setembro
Início das transmissões da Rádio Nacional, que será encampada pelo Estado Novo em 1940.
Sem condições de manter e modernizar o parque de equipamentos da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, Roquette-Pinto doa a emissora ao Ministério da Educação e Saúde, com a condição de que ela mantivesse sua missão cultural e educativa. Ela passa a se chamar Rádio Ministério da Educação, ou Rádio Ministério e, depois, Rádio MEC, que é hoje a emissora com transmissões regulares mais antiga em atividade no País. Sua programação musical privilegia a diversidade da música popular brasileira e temas como infância, sustentabilidade, inclusão, gênero e educação.
Os ouvintes brasileiros devem ter acompanhado pelas transmissões radiofônicas do Departamento de Imprensa e Propaganda o transcurso das festas e solenidades rememorando o episódio histórico que determinou a nossa libertação da corte portuguesa.
7 de setembro de 1938
Abertura da primeira edição de A Hora do Brasil
1º de dezembro
Abelardo Barbosa começa a apresentar o programa Rei Momo na Chacrinha, na Rádio Clube Fluminense.
Naquele tempo, eram programas feitos, realmente, para botar o cara para dormir. Então, eu resolvi fazer um programa para o cara ficar acordado. Então, eu imaginei um programa… Rei Momo na Chacrinha, porque a rádio era numa chácara de verdade.
Chacrinha
18 de novembro
Em Porto Alegre, entra no ar em caráter definitivo a Rádio da Universidade, pioneira das emissoras universitárias do País.
Operador de áudio no estúdio. Acervo Rádio da Universidade (UFRGS)
O Poder Legislativo passa a ocupar a segunda meia hora do programa A Hora do Brasil.
Newton Alvarenga Duarte, o Big Boy, se torna o primeiro grande disc jockey brasileiro, apresentando aos brasileiros as novidades da black music americana e do soul nacional, além dos sucessos dos Beatles.
27 de abril
O regime militar torna a expansão das FMs uma prioridade. São dados incentivos à indústria eletroeletrônica para produção de transmissores e receptores.
Fundação da Rádio Favela FM, marco do rádio comunitário brasileiro.
Março
A Bandeirantes AM, de São Paulo, começa a gerar seu radiojornal usando o tempo ocioso do subcanal que a TV havia alugado no Intelsat 4. É a entrada do rádio brasileiro na era das redes via satélite.
Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, consolida o primeiro projeto viável de jornalismo 24 horas.
Setembro
Surgem as primeiras rádios online no mundo, replicando, na internet, programações do AM/FM; a primeira teria sido a Klif, do Texas, nos EUA.
Abril
De Recife, o programa Manguetronic, ligado ao movimento Mangue Beat, é a primeira web rádio do País, sem existência em ondas hertzianas.
29 de janeiro
Criação da Rádio Senado.
19 de fevereiro
A Lei 9.612 institui o Serviço de Radiodifusão Comunitária.
20 de janeiro
Entra no ar a Rádio Câmara.
2 de dezembro
Começa a operar a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), com a missão de prestar serviços de radiodifusão pública.
17 de outubro
Criação da Rede Legislativa de Rádio da Câmara dos Deputados
7 de novembro
Decreto nº 8.139 autoriza a migração de emissoras da faixa de AM para a de FM.
Ouça a Rádio Câmara aqui
Era função de todos nós darmos um caráter didático à programação. Nós não colocávamos música apenas pra preenchermos espaço. Nós colocávamos a música com a intenção de transmitir uma forma de conhecimento, desenvolver a escuta do ouvinte e despertar nele a curiosidade por aquele autor, aquela obra.
Programador Rubem Prates,
que atuou na Rádio da Universidade a partir de 1975
O rádio fala para o local. E, mesmo com um quarto de ouvintes no celular, em muitas comunidades, quem traz a informação ainda são sistemas de alto-falantes instalados com uso de fios em postes de energia elétrica. É a rádio poste, único meio de comunicação local de muitos desertos de notícias.
A rádio poste é hiperlocal. Divulga eventos comunitários, feiras de bairro, programação de igrejas e de centros culturais, ocorrências no trânsito, obituários, campanhas de vacinação, matrícula nas escolas, pedidos ou reclamações da população. É isso que vira notícia.
Kantar IBOPE Media EasyMedia4 / 13 PRAÇAS / ABR/2022 A JUN/2022 / AMBOS / TOTAL EMISSORAS / 5-5 / Todos os dias / TOUVUNI30% / TMED#
Target Group Index TG BR 2022 R1. Filtro: Ouvintes de Rádio TOTAL (últimos 7 dias)
Target Group Index TG BR 2022 R1.
Filtro: Entre os ouvintes de podcast
O podcast rompe com algumas características do rádio, como a grade fixa de programação e a escuta em tempo real: você ouve quando quer, onde quer e ainda compartilha com os amigos. E tensiona o radiojornalismo atual com um apresentador que conta histórias em primeira pessoa, vira personagem e conduz o ouvinte por meio de trilhas e efeitos que conferem mais emoção ao relato. Mas será que isso basta para se dizer que podcast é algo novo, que rompe com o rádio? Afinal, Chacrinha já fazia algumas dessas peripécias na década de 1940…
De todo jeito, o podcast faz parte do movimento de renovação do rádio, tão necessário para que o veículo se mantenha relevante mesmo depois da chegada da TV e, agora, da internet. O rádio, com certeza, mudou nesses 100 anos: se adaptou às novas tecnologias, se expandiu, mas, definitivamente, não morreu.
Exposição Rádio: centenário e antenado
REALIZAÇÃO Centro Cultural Câmara dos Deputados
COORDENAÇÃO DO PROJETO Clauder Diniz | CURADORIA Verônica Lima Nogueira da Silva | PRODUÇÃO Clarissa de Castro, João Paulo Florêncio, Mércia Maciel | REVISÃO Maria Amélia Elói | PROJETO GRÁFICO Luérison Alves, Mima Carfer, Felipe Matheus | ESTAGIÁRIA Jaqueline de Melo | MONTAGEM E MANUTENÇÃO DA EXPOSIÇÃO André Ventorim, Maurilio Magno, Paulo Titula, Wendel Fontenele | MATERIAL GRÁFICO Coordenação de
Serviços Gráficos – CGRAF/DEAPA
INFOGRÁFICO Thiago Fagundes, Rafael Teodoro
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Rádio no Brasil [recurso eletrônico]: 100 anos de história em (re) construção / organizadores Vera Lucia Spacil Raddatz … [et al.].
Ijuí : Ed. Unijuí, 2020.
Carta aberta sobre o pioneirismo no rádio brasileiro, 2021.
AGRADECIMENTOS
Acervo Joaquim Nabuco – Ministério da Educação | Empresa Brasil de Comunicação | Hamilton Almeida | Instituto Histórico
e Geográfico do Rio Grande do Sul | Luiz Artur Ferraretto | Manguetronic | Marcelo Kischinhevsky | Marco Aurélio Cardoso
Moura | Marinha do Brasil | Museu Brasileiro de Rádio e Televisão | Rádio Autêntica 106,7 Favela FM | Rádio Comunitária
Heliópolis | Rádio da Universidade (UFRGS) | Rádio Poste Caema